Equipe do Vasco de 1923 - Foto da internet
Em 1923 o Vasco foi campeão
Carioca com um time formado por muitos pobres e negros, sendo que alguns eram
inclusive analfabetos, fato não raro naquela época e, embora a maioria desses
atletas já tivessem jogado por outros clubes, principalmente o Bangu, o fato de
tantos terem sido reunidos em uma só agremiação, e de terem ousado ser campeões
sobre os elitizados clubes da zona sul do Rio, fez com que fosse criada a AMEA
(Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) em substituição à LMDT (Liga
Metropolitana de Desportos Terrestres), mudando suas regras e impondo uma série
de exigências ao Vasco, entre elas excluir de sua Equipe aqueles que fossem
analfabetos, ou que vivessem do futebol apenas.
O Vasco não aceitou as exigências
e deixou a AMEA, permanecendo, com outros clubes, na LMDT, onde sagrou-se
bicampeão. AMEA e LMDT só foram se unir novamente em 1935, quando foi criada a
FMD (Federação Metropolitana de Desportos), mas o campeonato se uniu novamente
3 anos antes.
Fato é que, o Bangu, já aceitava
negros e pobres em seus escretes desde 1905, o que faz com que eles reivindiquem
a primazia na defesa contra o preconceito racial e social no futebol, mas
também é fato que, o primeiro e único a se manifestar e enfrentar represarias pelo
uso desses atletas foi o Vasco, o que o faz realmente o primeiro a lutar contra
este tipo de preconceito.
O Vasco se juntou à AMEA em 1925,
após vencer as exigências da entidade sobre seus atletas, e cumprir com outras
como o fato de não ter um estádio para jogar. Esse fato levou à construção de
São Januário, e em 1925, o Vasco disputou seus jogos no Campo do Andaraí,
posteriormente passou ao América e hoje a área abriga um Shopping Center.
A coragem do Gigante da Colina
rendeu muitos reflexos na sociedade Carioca da época, e tivemos comícios políticos
na Cinelândia (Centro do Rio) sobre o assunto, e a eterna predisposição a ver o
Vasco como problemático, já que ousou se opor aos times de elite da época,
américa, bangu, flamengo, fluminense e botafogo (alguns ainda o são).
Para relembrar esta atitude
corajosa e na época inesperada, por parte do Clube de Regatas Vasco da Gama,
tivemos ontem uma celebração de gala, na sede náutica do Clube na Lagoa Rodrigo
de Freitas.
O atual presidente, Carlos
Roberto de Oliveira, discursou em tom de despedida, já que dificilmente
conseguirá uma reeleição este ano.
Abaixo a transcrição da carta
enviada à AMEA:
Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As
resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião
de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside,
colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que
absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem
pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos
nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes
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