sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Blog do Vascão Eterno e os campeonatos estaduais.

Há pouco tempo o Blog do Vascão Eterno publicou um post, no qual defendia que os grandes só entrassem no Campeonato Carioca mais tarde, depois de um torneio de classificação e para um mata-mata que ao final definiria o campeão.  Julio Gomes na verdade foi mais longe, leu os pensamentos desse blogueiro aqui, e pediu um campeonato brasileiro que comece em fevereiro, acabe em setembro e um estadual que dure o ano todo e os grandes só entrem após o término do nacional. Como nossos pensamentos são muito parecidos, farei apenas alguns ajustes para que os leitores conheçam exatamente o que pensa o Blog do Vascão Eterno.

O Brasileirão começaria em fevereiro e teria seus jogos nos finais de semana apenas (eventualmente poderíamos ter um meio de semana). Os meios de semana do primeiro semestre ficariam reservados para Copa do Brasil e Libertadores. Os Estaduais também começam no início do ano, com uma fase de classificação, mas sem a presença dos times que estão disputando alguma divisão do Brasileiro. A fase de classificação dos Estaduais terminaria no final de setembro, assim como o brasileiro. Outubro e novembro teríamos apenas fases finais de Copa do Brasil e Sul Americana nos meios de semana, e fases decisivas dos Estaduais nos finais de semana. As razões são dadas no post de Julio Gomes, que transcrevemos na íntegra abaixo.

“Eu sou um grande defensor dos Campeonatos Estaduais e do mata-mata. São dois elementos, na minha visão, que contribuíram para a formatação e fortalecimento do futebol brasileiro. O futebol regional é que faz tantos times grandes e relevantes existirem. Isso ajuda o futebol nacional, faz com que o Brasileiro seja imprevisível e equilibrado. Não podemos simplesmente jogar tudo isso no lixo. E o mata-mata é o responsável pelos grandes jogos, a criação de ídolos e fazer com que as pessoas sejam atraídas pelo esporte.
Não quero falar de mata-mata aqui hoje. Deixarei para outro post, essa discussão é bacana e rica. Quero falar dos Estaduais.
O Brasil, um país com a proporção geográfica que tem, não pode simplesmente desprezar regiões, valorizando apenas os poucos que conseguem estar na primeira divisão. Os Estaduais devem e precisam ser valorizados. Eles devem ser os torneios em que as jovens revelações aparecem, em que os times grandes farão seus scouts, em que haverá formação, em que cidades terão a possibilidade de ver, consumir, gostar de futebol. Em que clubes poderão assumir responsabilidades sociais e papéis vitais dentro das comunidades locais.
Acabar com os Estaduais é acabar com o futebol local. E acabar com o futebol local será extremamente prejudicial ao futebol como um todo – já estamos vendo esse movimento.
Neste fim de semana, começaram os Estaduais. E a grande verdade é que ninguém está nem aí para eles. Assiste ao Estadual como assiste-se à Copinha SP de juniores. Tem gente que nem lembra que seu time está jogando. E isso tem muito, tudo a ver com o formato de nosso calendário e das competições em si. Muito mais isso do que uma suposta mudança de mentalidade do torcedor, que teria acordado para o que realmente importa, que é a competição nacional. Eu não compro essa tese. As pessoas adoram ganhar do vizinho, isso nunca vai mudar.
No entanto, não sou maluco de dizer que os Estaduais precisam voltar a ter o peso que tinham, que precisamos de mais datas etc.
O que precisamos é de duas coisas. Nada mais do que duas coisas. 1) Que os Estaduais durem o ano todo; 2) Que os regulamentos sejam claros e nada bizarros.
Julio, você está louco? Estadual o ano todo? Sim. Para os times que não estejam nas Séries A, B e C.
Os Estaduais precisam começar em fevereiro e serem jogados aos fins de semana, somente, que é quando as pessoas têm tempo e vontade de ir ao estádio. O Brasileirão também precisa começar nesta época, com suas três divisões. Lá para setembro, quando acabarem os nacionais, os times disputam somente as fases finais dos Estaduais.
Ou seja, os times de interior vão ter movimento o ano todo, acabando com as operações de três meses, subemprego no futebol, abandono das estruturas etc. E vão jogar entre si para saber quais serão os merecedores de receberem a oportunidade de jogar com os grandes. Não é todo mundo. São os poucos que fizerem por merecer. O que aumentará a competitividade e dará um norte ao torcedor das cidades.
E aí, em outubro e novembro, temos os Estaduais. 10, 12 datas no máximo, com a presença dos grandes. Grupos curtos, semifinal e final. Não tem que inventar.
O time grande que tiver ido mal nas competições nacionais, terá no Estadual a chance de fechar o ano bem. O time pequeno que batalhou durante o ano terá, no final, a recompensa de enfrentar o grande. Com estádios cheios, porque serão poucas datas, jogos importantes e decisivos.
O que não dá é para Tico e Teco fazerem regulamentos tão bizarros, ridículos, patéticos, como deste Paulistão. São regulamentos assim, muito mais do que outros fatores, que fazem o torcedor se afastar dos Estaduais. Após a primeira rodada, temos um grupo no Paulistão em que todos perderam. E outro em que todos ganharam. E ninguém se enfrenta entre si. É um descalabrado completo.
E tudo, sempre, por causa da politicagem. Os dirigentes de clubes pequenos que acham que salvará a vida do clube jogar duas vezes em casa contra os grandes de São Paulo está, na verdade, ajudando ainda mais a afundar seu clube. Até no interior, com a presença dos grandes, os estádios não ficam mais cheios (como vimos em Bragança, ontem). As pessoas não se interessam. Porque são jogos que não valem nada.
Regulamentos como este estragam o que poderia ser muito bacana. São os formatos e o fato de Estaduais serem antes do Brasileiro que fazem com que o torcedor não dê mais bola para estas competições.
Repito: o futebol brasileiro precisa continuar local. Só assim há a possibilidade de seguirmos tendo 12 clubes grandes. E quem sabe mais, com o crescimento econômico de novos centros. Parem para pensar: nos últimos 30 e tantos anos, Grêmio e Inter, somados, ganharam UM Brasileiro. Sim, teve Libertadores no meio e tal. Mas será que acabar com o Gauchão, acabar de vez, será mesmo benéfico a esta rivalidade, à criação de torcedores que, no futuro, sustentarão os clubes?
E se eles ficarem, digamos, mais 30 anos sem ganhar nada nacionalmente? E não tiver Libertadores no meio? Será que o Estado inteiro vai continuar dedicado aos dois? Ou outras forças nacionais, as que vencerem mais nesses 30 anos, começarão a abocanhar alguma fatia de mercado? De repente, até o próprio futebol pode perder o interesse na região! Não subestimem os Estaduais. Foram eles que fizeram médias e grandes cidades do país terem duas (ou mais, no caso de RJ e SP) forças, que cresceram juntas, não dissociadas.
Precisamos dos localismos fortes. Só assim o futebol terá cor e importância na vida real das cidades espalhadas pelo país. Clubes pequenos com operações pequenas, rentáveis para as cidades e que revelem jogadores para os clubes grandes. Como sempre foi, oras bolas.
Estaduais o ano todo. Grandes entrando só no fim. Pequenos batalhando para terem esse momento. E regulamentos simples. Que priorizem a competição, dando dinamismo e atraindo interesse, não priorizando política e favores entre dirigentes.

Peguem essa fórmula do Paulista e joguem no lixo, junto com o calendário dos Marins e Del Neros. Estão acabando com o que não pode acabar.”

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