Segundo os sites esportivos, a CBF autorizou a instalação da chamada liga Sul-Minas-Rio, que comporia com os maiores clubes das regiões citadas, com exceção de Vasco e Botafogo. A exceção se dá politicamente, pois os dois clubes cariocas são desafetos de flamengo e fluminense na Fferj, e por isso foram preteridos na fundação da liga. Segundo as informações, a liga também já organizaria seu primeiro torneio para o próximo ano, mas o mesmo não teria a participação de todos os integrantes da mesma. A única coisa que impediria tal torneio seria o conflito de datas com os campeonatos estaduais.
Nesse quadro, a primeira coisa que precisaríamos para o estabelecimento da tal liga seria a composição de datas, algo difícil em um calendário já assoberbado e com pouquíssimas janelas. A segunda coisa que precisaríamos seria o cumprimento da Lei quanto ao calendário esportivo para o próximo ano. Isso porque a Lei diz que o calendário para o próximo ano tem que ser informado no ano anterior, com as previsões de início e término de cada competição. Pois bem, o calendário para o próximo ano já foi informado, e nele não consta a competição organizada pela liga.
Não sou contra a criação da liga; na verdade sou a favor. O problema é que a liga está sendo formada de forma equivocada. Primeiro porque não contempla uma gama maior de clubes, segundo porque busca uma elitização do futebol brasileiro, algo contraproducente no país. Basta analisar, a decadência do futebol brasileiro, que começou quando os estaduais começaram a ser considerados competições de segunda linha, e foram relegados a segundo plano. Brasileiro, Copa do Brasil, Sul Americana e Libertadores (e mundial?) passaram a ser os grandes xodós de clubes e torcidas, só que os clubes pequenos não disputam essas competições, a não ser muito ocasionalmente, como foram os casos de São Caetano, Juventude e São Bernardo.
O que tem isso a ver com a derrocada de nosso futebol? Muito. A maioria dos craques que passaram por nossos gramados não foram formados pelos grandes clubes, embora tenham sido cooptados por esses, e se tornado ídolos durante suas vitoriosas passagens. Na década de 80, o grandes clubes brasileiros aproveitaram a proximidade (através dos estaduais) com os clubes menores, e passaram a garimpar suas divisões de base, de forma a trazer jovens promessas e eles mesmos terminarem suas formações. Foram os casos de Mauricinho e Juninho no Vasco, Bebeto no flamengo, Ronaldinho 9 no cruzeiro, Ademir e Bellini (isso para ficar em alguns dos mais conhecidos). Mas mesmo assim a maioria tinha sua formação em clubes de menor expressão. Rivaldo, Sócrates, Ricardo Rocha, Raí, Acácio (melhor goleiro que vi no Vasco), Mazarópi, etc.
Com o afastamento de nossos grandes clubes dos menores, e uma melhor organização dos europeus, esse processo se alterou, e agora as jovens promessas vão diretamente para a Europa, e fazem sua formação por lá. Desnecessário dizer o quanto perdem os clubes e o futebol brasileiro. Esse processo aconteceu no futsal, esporte em que o Brasil perdeu sua hegemonia, e está acontecendo no futebol de campo.
Mas é claro que não é só isso que explica a fuga de nossas promessas. Hoje em dia um garoto que apresente alguma habilidade já assina contrato profissional, normalmente bem remunerado, com direito a luvas e outras coisas mais. No sub-20 não há um atleta que não esteja sob contrato, normalmente com vencimentos bastante polpudos para a idade, e principalmente por se tratarem de simples promessas.
Em outras palavras, ficou muito caro manter divisões de base, porque a isso se somam os custos de manutenção de infraestrutura, de participação em campeonatos e torneios, etc. Mesmo os clubes grandes brasileiros têm sérias dificuldades em manter essas equipes, imaginem os pequenos?
Claro que os problemas do futebol brasileiro não param por aqui, eles vão além, e contemplam desde total falta de profissionalismo (entendido aqui como competência) em alguns de nossos clubes, passando por mudanças no conceito de formação e peneira nas divisões de base, a total falta de comprometimento de alguns dos envolvidos na administração do futebol brasileiro com a transparência, além do favorecimento descarado de algumas agremiações (creio eu por fatores políticos e/ou econômicos), de forma a tornar campeonatos e decisões extra campo totalmente suspeitas.
Nesse cenário absolutamente disforme, a elitização ainda maior de nosso futebol servirá apenas para nos afastar ainda mais de nossas origens, das características que fizeram do futebol brasileiro o melhor do mundo, um futebol capaz de produzir as seleções que levantaram 5 títulos mundiais, e deixaram saudades em 1950 e 1982, Nisso os clubes vão mais rápido, embora não percebam.
E que isso tudo tem a ver com o Vascão? Tudo, ou vocês acham que o Vasco não está inserido nesse cenário?
Assim, como disse, não sou contra a liga, mas acho que ela deveria ir por outro caminho, buscar mudanças mais profundas, resgatar nossas origens, O que estão fazendo é apenas um caça-niqueis da TV, que a médio e longo prazo servirá apenas para enterrar ainda mais nosso futebol.
Saudações Vascaínas!
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