quinta-feira, 6 de março de 2014

Blog do Vascão Eterno tenta entender Adilson Batista

A verdade é que o Time do Vascão melhorou consideravelmente em suas peças individuais, mas na maior parte do tempo permanece apresentando um futebol lento, burocrático, previsível, e irritante para a torcida. E com isso não nos referimos às conclusões erradas, que têm sido outro problema da equipe, mas à falta de criação de oportunidades reais de gol. Isso ficou muito nítido ontem, contra o fraco resende.

Essa situação não é nova esse ano, já se repetiu outras vezes, e mais do que culpa dos jogadores, o problema é com o esquema tático utilizado. Sem dúvidas que os atletas podem apresentar-se menos inspirados em alguns dias, mas mesmo inspirados, a coisa fica mais difíceis quando são escalados em posições que não conhecem, e ainda ficam amarrados num esquema tático. Pois analisemos esse esquema.

A ideia inicial de Adilson Batista não é ruim, ao contrário, é boa. Acontece que ele não tem peças para executar sua ideia, nela insiste, e por isso erra. Adilson esquematizou um sistema em que a defesa fica bastante sólida e o ataque seria bastante ousado, algo que não víamos há muitos anos: Adilson tenta atacar com pontas.

Na defesa a presença de três volantes deve dar bastante proteção à zaga, ponto fraco do Time ano passado, e a volta de ao menos um atacante, perfaz duas linhas de quatro defensores, num sistema de marcação muito usado na Europa. Esse sistema é tão eficiente, que o Vascão é a defesa menos vazada do Carioca. Ponto positivo para Adilson nesse quesito, mas isso é o sistema pensado para o ataque que vem travando o Time.

Quando o Vascão ataca, Adilson tenta empregar um sistema muito comum na década de 70, quando tínhamos um centroavante enfiado entre os zagueiros, dois pontas abertos e meias-atacantes que chegam ao ataque, tendo a alternância do apoio dos laterais, algumas vezes subiam os dois ao mesmo tempo ou o volante aparecia de surpresa.

Mas para isso os times eram escalados num 4-3-3, e no meio campo tínhamos um cabeça-de-área (hoje chamado de volante), que tinha esse nome por se posicionar à frente da área, fazendo proteção aos zagueiros, dois meias-atacantes, às vezes um meia-armador e outro meia-atacante, um centroavante fixo, e os pontas eram rápidos e habilidosos. Nos últimos 15 anos só vi três jogadores com essas características: Euler, o Filho do Vento; Denilson (São Paulo); e Éder Luis.

Esse esquema funcionava com os pontas abertos e buscando a linha de fundo, ou cortando em facão para o meio. O objetivo final era cruzar a bola para o centroavante, os meias, que tinham por função, além de armar o jogo, encostar no atacante, e o outro ponta, que entrava na área pelo outro lado. Assim tínhamos sempre 3 ou quatro jogadores dentro da área, e um na sobra.

Como disse acima, hoje em dia já não encontramos mais pontas. Tampouco no elenco do Vasco temos atletas com essas características. O único que realmente se presta a fazer um “ponta” é Montoya, sempre preterido por Adilson. Mas mesmo Montoya rende mais quando atua de meia-atacante. Edmilson até se fixa dentro da área, mas rende muito mais quando se movimenta. Douglas é um meia-armador clássico, e distribui bem o jogo, mas não é de sua característica encostar no atacante. Reginaldo faz um trabalho tático bom, voltando para auxiliar na marcação, mas não é ponta, falta-lhe o cacoete para a função, e rende mais quando joga como atacante moderno.

E chegamos ao ponto muito fraco do esquema de Adilson para o ataque: os três volantes. Se por um lado eles dão maior solidez à defesa, por outro dão fragilidade ao ataque. Por mais que se esforcem Aranda, Pedro Ken e Felipe Bastos não tem velocidade, criatividade, rapidez, habilidade e não têm a manha de encostar no atacante fixo de Adilson, função mais adequada a Bernardo ou Montoya. Em suma, não servem para fazer o papel de meia.

Por  isso insistimos que Adilson escala mal o Time, e insiste em um esquema tático que não se adequa às características dos atletas da Equipe, além de constantemente efetuar substituições equivocadas. Adilson Batista deixa transparecer que, para ele, o esquema tático é mais importante do que a capacidade dos atletas que estão em campo, por isso insiste tanto no comprometimento e dedicação dos atletas sob seu comando. O que Adilson parece não enxergar é que a conjugação de um esquema adequado às características dos atletas que tem, é que pode fazer uma equipe evoluir.

Não se iludam, o Vasco de 2014 melhorou na parte técnica, com atletas melhores, mas piorou taticamente. A defesa vem se comportando melhor, com uma zaga mais consistente, sem o Cris dando furadas ridículas, e com uma melhor proteção. Isso é resultado de melhores volantes, da troca dos laterais e de Cris por Rodrigo (trocou quase a defesa inteira), além do sistema defensivo com três volantes, algo que Adilson já havia esboçado no final do ano passado.

Mas a parte ofensiva piorou. O Time está travado, amarrado, fácil de marcar e muito previsível. Ontem isso ficou claro. Enquanto estiveram todos presos ao esquema de Adilson, o Time não produziu nada, e viveu de chutes de longa distância e das batidas de falta de Douglas. Muito pouco para a diferença técnica e de investimento entre Vasco e resende. Somente a partir dos 35 min, quando os atletas se deslocaram é que engatamos uma sequência de bons ataques, que culminaram no gol no final da primeira etapa.

O início do segundo tempo também foi assim. A jogada em que Reginaldo perdeu o gol só foi possível porque ele estava centralizado, próximo a Edmilson. Nas outras jogadas em que levou perigo também estava deslocado para o meio do ataque. Enquanto esteve aberto como um ponta, pouco produziu.

Para jogar faze classificatória de Campeonato Carioca e primeiras fases de Copa do Brasil e talvez a Segunda Divisão, isso é suficiente, mas para jogar campeonatos mais difíceis, isso tornaria o Vasco mero coadjuvante. Os resultados são claros quanto a isso. Depois de 12 rodadas nós só vencemos times de menor investimento e os reservas do faísca. O único time melhorzinho que pegamos, nós perdemos. Claro que houve um monte de erros de arbitragem, mas os mulambos vinham de uma maratona aérea, têm um time inferior, e mesmo assim não conseguimos vencê-los, salvo pelos primeiros 35 min de jogo, quando fomos claramente superiores. Em todo o resto da partida conseguimos, no máximo, equilibrar o jogo.


Ou Adilson muda o esquema tático, ou deixa o Vasco. O que não pode é o Time continuar atuando de forma equivocada.

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