A verdade é que o Time do Vascão melhorou
consideravelmente em suas peças individuais, mas na maior parte do tempo
permanece apresentando um futebol lento, burocrático, previsível, e irritante
para a torcida. E com isso não nos referimos às conclusões erradas, que têm
sido outro problema da equipe, mas à falta de criação de oportunidades reais de
gol. Isso ficou muito nítido ontem, contra o fraco resende.
Essa situação não é nova esse
ano, já se repetiu outras vezes, e mais do que culpa dos jogadores, o problema
é com o esquema tático utilizado. Sem dúvidas que os atletas podem
apresentar-se menos inspirados em alguns dias, mas mesmo inspirados, a coisa
fica mais difíceis quando são escalados em posições que não conhecem, e ainda
ficam amarrados num esquema tático. Pois analisemos esse esquema.
A ideia inicial de Adilson Batista
não é ruim, ao contrário, é boa. Acontece que ele não tem peças para executar
sua ideia, nela insiste, e por isso erra. Adilson esquematizou um sistema em
que a defesa fica bastante sólida e o ataque seria bastante ousado, algo que
não víamos há muitos anos: Adilson tenta atacar com pontas.
Na defesa a presença de três
volantes deve dar bastante proteção à zaga, ponto fraco do Time ano passado, e
a volta de ao menos um atacante, perfaz duas linhas de quatro defensores, num
sistema de marcação muito usado na Europa. Esse sistema é tão eficiente, que o
Vascão é a defesa menos vazada do Carioca. Ponto positivo para Adilson nesse
quesito, mas isso é o sistema pensado para o ataque que vem travando o Time.
Quando o Vascão ataca, Adilson
tenta empregar um sistema muito comum na década de 70, quando tínhamos um
centroavante enfiado entre os zagueiros, dois pontas abertos e meias-atacantes
que chegam ao ataque, tendo a alternância do apoio dos laterais, algumas vezes
subiam os dois ao mesmo tempo ou o volante aparecia de surpresa.
Mas para isso os times eram
escalados num 4-3-3, e no meio campo tínhamos um cabeça-de-área (hoje chamado
de volante), que tinha esse nome por se posicionar à frente da área, fazendo proteção
aos zagueiros, dois meias-atacantes, às vezes um meia-armador e outro
meia-atacante, um centroavante fixo, e os pontas eram rápidos e habilidosos. Nos
últimos 15 anos só vi três jogadores com essas características: Euler, o Filho
do Vento; Denilson (São Paulo); e Éder Luis.
Esse esquema funcionava com os
pontas abertos e buscando a linha de fundo, ou cortando em facão para o meio. O
objetivo final era cruzar a bola para o centroavante, os meias, que tinham por
função, além de armar o jogo, encostar no atacante, e o outro ponta, que
entrava na área pelo outro lado. Assim tínhamos sempre 3 ou quatro jogadores
dentro da área, e um na sobra.
Como disse acima, hoje em dia já
não encontramos mais pontas. Tampouco no elenco do Vasco temos atletas com
essas características. O único que realmente se presta a fazer um “ponta” é
Montoya, sempre preterido por Adilson. Mas mesmo Montoya rende mais quando atua
de meia-atacante. Edmilson até se fixa dentro da área, mas rende muito mais
quando se movimenta. Douglas é um meia-armador clássico, e distribui bem o
jogo, mas não é de sua característica encostar no atacante. Reginaldo faz um
trabalho tático bom, voltando para auxiliar na marcação, mas não é ponta,
falta-lhe o cacoete para a função, e rende mais quando joga como atacante
moderno.
E chegamos ao ponto muito fraco
do esquema de Adilson para o ataque: os três volantes. Se por um lado eles dão
maior solidez à defesa, por outro dão fragilidade ao ataque. Por mais que se
esforcem Aranda, Pedro Ken e Felipe Bastos não tem velocidade, criatividade, rapidez,
habilidade e não têm a manha de encostar no atacante fixo de Adilson, função
mais adequada a Bernardo ou Montoya. Em suma, não servem para fazer o papel de
meia.
Por isso insistimos que Adilson escala mal o
Time, e insiste em um esquema tático que não se adequa às características dos
atletas da Equipe, além de constantemente efetuar substituições equivocadas.
Adilson Batista deixa transparecer que, para ele, o esquema tático é mais
importante do que a capacidade dos atletas que estão em campo, por isso insiste
tanto no comprometimento e dedicação dos atletas sob seu comando. O que Adilson
parece não enxergar é que a conjugação de um esquema adequado às características
dos atletas que tem, é que pode fazer uma equipe evoluir.
Não se iludam, o Vasco de 2014
melhorou na parte técnica, com atletas melhores, mas piorou taticamente. A
defesa vem se comportando melhor, com uma zaga mais consistente, sem o Cris
dando furadas ridículas, e com uma melhor proteção. Isso é resultado de
melhores volantes, da troca dos laterais e de Cris por Rodrigo (trocou quase a
defesa inteira), além do sistema defensivo com três volantes, algo que Adilson
já havia esboçado no final do ano passado.
Mas a parte ofensiva piorou. O
Time está travado, amarrado, fácil de marcar e muito previsível. Ontem isso
ficou claro. Enquanto estiveram todos presos ao esquema de Adilson, o Time não
produziu nada, e viveu de chutes de longa distância e das batidas de falta de
Douglas. Muito pouco para a diferença técnica e de investimento entre Vasco e
resende. Somente a partir dos 35 min, quando os atletas se deslocaram é que
engatamos uma sequência de bons ataques, que culminaram no gol no final da
primeira etapa.
O início do segundo tempo também
foi assim. A jogada em que Reginaldo perdeu o gol só foi possível porque ele
estava centralizado, próximo a Edmilson. Nas outras jogadas em que levou perigo
também estava deslocado para o meio do ataque. Enquanto esteve aberto como um
ponta, pouco produziu.
Para jogar faze classificatória
de Campeonato Carioca e primeiras fases de Copa do Brasil e talvez a Segunda
Divisão, isso é suficiente, mas para jogar campeonatos mais difíceis, isso
tornaria o Vasco mero coadjuvante. Os resultados são claros quanto a isso. Depois
de 12 rodadas nós só vencemos times de menor investimento e os reservas do
faísca. O único time melhorzinho que pegamos, nós perdemos. Claro que houve um
monte de erros de arbitragem, mas os mulambos vinham de uma maratona aérea, têm
um time inferior, e mesmo assim não conseguimos vencê-los, salvo pelos
primeiros 35 min de jogo, quando fomos claramente superiores. Em todo o resto
da partida conseguimos, no máximo, equilibrar o jogo.
Ou Adilson muda o esquema tático,
ou deixa o Vasco. O que não pode é o Time continuar atuando de forma
equivocada.
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