Há pouco tempo o Blog do Vascão Eterno
publicou um post, no qual defendia que os grandes só entrassem no Campeonato
Carioca mais tarde, depois de um torneio de classificação e para um mata-mata
que ao final definiria o campeão. Julio
Gomes na verdade foi mais longe, leu os pensamentos desse blogueiro aqui, e
pediu um campeonato brasileiro que comece em fevereiro, acabe em setembro e um
estadual que dure o ano todo e os grandes só entrem após o término do nacional.
Como nossos pensamentos são muito parecidos, farei apenas alguns ajustes para
que os leitores conheçam exatamente o que pensa o Blog do Vascão Eterno.
O Brasileirão começaria em fevereiro e
teria seus jogos nos finais de semana apenas (eventualmente poderíamos ter um
meio de semana). Os meios de semana do primeiro semestre ficariam reservados
para Copa do Brasil e Libertadores. Os Estaduais também começam no início do
ano, com uma fase de classificação, mas sem a presença dos times que estão
disputando alguma divisão do Brasileiro. A fase de classificação dos Estaduais
terminaria no final de setembro, assim como o brasileiro. Outubro e novembro
teríamos apenas fases finais de Copa do Brasil e Sul Americana nos meios de
semana, e fases decisivas dos Estaduais nos finais de semana. As razões são
dadas no post de Julio Gomes, que transcrevemos na íntegra abaixo.
“Eu sou um grande defensor dos Campeonatos Estaduais e do
mata-mata. São dois elementos, na minha visão, que contribuíram para a formatação
e fortalecimento do futebol brasileiro. O futebol regional é que faz tantos
times grandes e relevantes existirem. Isso ajuda o futebol nacional, faz com
que o Brasileiro seja imprevisível e equilibrado. Não podemos simplesmente
jogar tudo isso no lixo. E o mata-mata é o responsável pelos grandes jogos, a
criação de ídolos e fazer com que as pessoas sejam atraídas pelo esporte.
Não quero falar de mata-mata aqui hoje. Deixarei para outro
post, essa discussão é bacana e rica. Quero falar dos Estaduais.
O Brasil, um país com a proporção geográfica que tem, não pode
simplesmente desprezar regiões, valorizando apenas os poucos que conseguem
estar na primeira divisão. Os Estaduais devem e precisam ser valorizados. Eles
devem ser os torneios em que as jovens revelações aparecem, em que os times
grandes farão seus scouts, em que haverá formação, em que cidades terão a
possibilidade de ver, consumir, gostar de futebol. Em que clubes poderão
assumir responsabilidades sociais e papéis vitais dentro das comunidades
locais.
Acabar com os Estaduais é acabar com o futebol local. E acabar
com o futebol local será extremamente prejudicial ao futebol como um todo – já
estamos vendo esse movimento.
Neste fim de semana, começaram os Estaduais. E a grande verdade
é que ninguém está nem aí para eles. Assiste ao Estadual como assiste-se à
Copinha SP de juniores. Tem gente que nem lembra que seu time está jogando. E
isso tem muito, tudo a ver com o formato de nosso calendário e das competições
em si. Muito mais isso do que uma suposta mudança de mentalidade do torcedor,
que teria acordado para o que realmente importa, que é a competição nacional.
Eu não compro essa tese. As pessoas adoram ganhar do vizinho, isso nunca
vai mudar.
No entanto, não sou maluco de dizer que os Estaduais precisam
voltar a ter o peso que tinham, que precisamos de mais datas etc.
O que precisamos é de duas coisas. Nada mais do que duas coisas.
1) Que os Estaduais durem o ano todo; 2) Que os regulamentos sejam claros e
nada bizarros.
Julio, você está louco? Estadual o ano todo? Sim. Para os times
que não estejam nas Séries A, B e C.
Os Estaduais precisam começar em fevereiro e serem jogados aos
fins de semana, somente, que é quando as pessoas têm tempo e vontade de ir ao
estádio. O Brasileirão também precisa começar nesta época, com suas três
divisões. Lá para setembro, quando acabarem os nacionais, os times disputam
somente as fases finais dos Estaduais.
Ou seja, os times de interior vão ter movimento o ano todo,
acabando com as operações de três meses, subemprego no futebol, abandono das
estruturas etc. E vão jogar entre si para saber quais serão os merecedores de
receberem a oportunidade de jogar com os grandes. Não é todo mundo. São os
poucos que fizerem por merecer. O que aumentará a competitividade e dará um
norte ao torcedor das cidades.
E aí, em outubro e novembro, temos os Estaduais. 10, 12 datas no
máximo, com a presença dos grandes. Grupos curtos, semifinal e final. Não tem
que inventar.
O time grande que tiver ido mal nas competições nacionais, terá
no Estadual a chance de fechar o ano bem. O time pequeno que batalhou durante o
ano terá, no final, a recompensa de enfrentar o grande. Com estádios cheios,
porque serão poucas datas, jogos importantes e decisivos.
O que não dá é para Tico e Teco fazerem regulamentos tão
bizarros, ridículos, patéticos, como deste Paulistão. São regulamentos assim,
muito mais do que outros fatores, que fazem o torcedor se afastar dos
Estaduais. Após a primeira rodada, temos um grupo no Paulistão em que todos
perderam. E outro em que todos ganharam. E ninguém se enfrenta entre si. É um
descalabrado completo.
E tudo, sempre, por causa da politicagem. Os dirigentes de
clubes pequenos que acham que salvará a vida do clube jogar duas vezes em casa
contra os grandes de São Paulo está, na verdade, ajudando ainda mais a afundar
seu clube. Até no interior, com a presença dos grandes, os estádios não ficam
mais cheios (como vimos em Bragança, ontem). As pessoas não se interessam.
Porque são jogos que não valem nada.
Regulamentos como este estragam o que poderia ser muito bacana.
São os formatos e o fato de Estaduais serem antes do Brasileiro que fazem com
que o torcedor não dê mais bola para estas competições.
Repito: o futebol brasileiro precisa continuar local. Só assim
há a possibilidade de seguirmos tendo 12 clubes grandes. E quem sabe mais, com
o crescimento econômico de novos centros. Parem para pensar: nos últimos 30 e
tantos anos, Grêmio e Inter, somados, ganharam UM Brasileiro. Sim, teve
Libertadores no meio e tal. Mas será que acabar com o Gauchão, acabar de vez,
será mesmo benéfico a esta rivalidade, à criação de torcedores que, no futuro,
sustentarão os clubes?
E se eles ficarem, digamos, mais 30 anos sem ganhar nada
nacionalmente? E não tiver Libertadores no meio? Será que o Estado inteiro vai
continuar dedicado aos dois? Ou outras forças nacionais, as que vencerem mais
nesses 30 anos, começarão a abocanhar alguma fatia de mercado? De repente, até
o próprio futebol pode perder o interesse na região! Não subestimem os Estaduais.
Foram eles que fizeram médias e grandes cidades do país terem duas (ou mais, no
caso de RJ e SP) forças, que cresceram juntas, não dissociadas.
Precisamos dos localismos fortes. Só assim o futebol terá cor e
importância na vida real das cidades espalhadas pelo país. Clubes pequenos com
operações pequenas, rentáveis para as cidades e que revelem jogadores para os
clubes grandes. Como sempre foi, oras bolas.
Estaduais o ano todo. Grandes entrando só no fim. Pequenos
batalhando para terem esse momento. E regulamentos simples. Que priorizem a
competição, dando dinamismo e atraindo interesse, não priorizando política e
favores entre dirigentes.
Peguem essa fórmula do Paulista e joguem no lixo, junto com o
calendário dos Marins e Del Neros. Estão acabando com o que não pode acabar.”